
Em noites como essas, em que o entusiasmo (por sair e tomar vinho com os amigos) toma conta e, ao mesmo tempo, a vontade de ficar em casa (tomando vinho) prevalece, trago para o debate uma pauta que há dias me ronda: o ‘afastar’ e o ‘voltar’.
De tudo que se afasta se volta! Falei essa semana para um colega de trabalho. E assim iniciamos um bate-papo, entre um cafezinho e outro, sobre como sempre voltamos para aquilo de que um dia nos afastamos.
Não me refiro somente aos amores e as paixões de nossas vidas, mas as coisas em geral, aos projetos, aos sonhos, aos lugares, aos desejos, que muitas vezes habitam apenas nosso inconsciente.
O ‘ter’ que se afastar é diferente do ‘querer’ se afastar. Uma gravidez indesejada, por exemplo, altera o rumo de uma vida, fazendo com que, em especial a mãe, tenha que se afastar de algumas coisas, pelo menos durante os próximos dois anos. São circunstâncias que condicionam o ‘afastar’.
Mas a pauta daqui e do bate-papo com o colega foi que muitas vezes queremos, realmente e conscientemente, nos afastar de algo. Através dessa percepção, lá vamos nós, utilizando 1001 argumentos e justificativas internas e tudo mais que for preciso para promover esse ‘afastar’, já que, no momento, não queremos mais aquilo. Contudo, como o Tempo é o Rei e sempre será, quando vemos lá estamos nós de novo. Com os mesmos, com as mesmas, voltando para aquele mesmo lugar, para aquele mesmo projeto, para aquele mesmo plano.
O que pode ser bem provável é que, na verdade, nós nunca nos afastamos desses desejos, desses sonhos ou seja lá o que. O que aconteceu é que eles estavam ali, de cantinho, na gaveta. Por isso, na maioria das vezes, é tão fácil de voltar para eles.
Entre várias coisas legais que aconteceram durante esse meu afastamento do blog, teve O Nó e o Laço, do psicanalista Alfredo Simonetti. Um livro que ‘voltou’ para as minhas mãos quase sem querer, mas recheado de conceitos interessantes, como o termo ‘conversas amorosas’, que se distingue do famigerado DR-Discutir a Relação. Sim, nada mais natural que um psicanalista traga para um de seus livros a importância da fala e do diálogo na vida das pessoas, especialmente de um casal. “Além do mais, de que nos serve sermos amados se não nos dizem, com palavras, ‘eu te amo’?” (p.23). Uma das teses defendidas no livro é que não basta amar, é preciso falar.
Mas voltando...lembrei, agora, do título daquele filme (que não vi): Viajo porque preciso, volto porque te amo...ele enfatiza a ideia de que só voltamos mesmo para as coisas e para as pessoas que mais amamos. Afinal, nós nunca esquecemos daquele projeto que não terminamos, daquela viagem que não fizemos, daquela pessoa que não amamos. O interessante é que mesmo em pensamento nós sempre acabamos voltando para aquilo, que por ventura, um dia nos afastamos.
Justifico mas não explico o porquê do afastamento do blog. Como todo ‘afastar’ pressupõe um ‘voltar’, cá estamos nós, de novo, over and over again.