
A frase da Clarisse Lispector no título resume bem a pauta de hoje.
A travessia da felicidade.
Tema mais do que polêmico. Mas tenho cá pra mim que a felicidade está muito mais intimamente ligada ao fazer do que ao ter. Até mesmo porque para ter é preciso fazer.
Parece óbvio.
Acontece que na prática e nas conversas cotidianas que ouço por ai, revela-se o contrário: "quando eu conseguir comprar aquilo ou quando eu tiver terminado aquilo outro ou quando eu emagrecer sei lá quanto ou quando eu conseguir passar num concurso público, ai sim, terei conquistado a felicidade"
Marisa Elzirik, psicolóloga, doutora em Educação e coordenadora do Comitê de Pesquisa e Sociedade de Psicologia da UFRGS diz que "...a felicidade não é um humor ou um estado de ânimo, por mais exaltados e duradouros que sejam, mas o resultado de uma vida bem conduzida, ou seja, das escolhas e valores que definem nosso percurso. Jamais será um estado final, que se possa adquirir e tomar posse de uma vez por todas"
Simples e direto assim, o que ela quis dizer é que não adianta a gente ficar colocando tudo lá pra frente, porque o que tá pegando agora, vai continuar pegando lá na frente se não percebermos que nossa conduta atual está nos prejudicando ou que temos que AGIR ao invés de ficar somente no plano das ideias....
Ainda no mesmo artigo ela fala que a felicidade é uma atividade como qualquer outra, que se cultiva e que se constrói e que, por alguns momentos, se conquista e se desfruta. A felicidade é sempre fonte de alegria, mas está sempre a exigir de nós empenho, amor e contínuo recomeço...
ah os recomeços!!! Eu volta e meia falo deles e acho que é fundamental nos darmos conta das inúmeras vezes que recomeçamos na vida. Não é à toa que todos os recomeços pressupõem términos ou no mínimo uma mudança na forma com que encaramos cercas situações no nosso dia-a-dia. Há vários níveis de recomeços e de términos.
Mas ainda na pauta da felicidade "... escolher a si mesmo, em termos de uma ética e de uma estética de si, significa que não se escolhe apenas seu amado, mas toma-se a si mesmo como amante".
O mais legal nesse texto é que ela vai conduzindo a questão para o lado bem íntimo e pessoal mesmo, aquela história de que o que é a travessia da felicidade para mim pode não ser para você. Nessa parte ela fala sobre a consciência das escolha que fazemos, que ela sempre está presente ao se fazer a opção, mas que é a continuidade da vida, ou seja - a seqüência dos compromissos assumidos - que qualificará a escolha como decisão.
No final ela utiliza a metáfora da viagem e cita Nietzsche, dizendo que ele aconselhava conceber o pensamento sob o signo da viagem e não sob o signo da parada, que seria uma das maneiras de fugir do imobilismo. É como trocar de pele ou olhar diferentemente para o que se conhece. Exercitar um olhar viajante, um olhar estrangeiro.
E continuando na metáfora das viagens ela termina: "Viagens supõe distância, proximidade, tempo, espaço, inclusões e exclusões, extensões - potência de estar em algum lugar - um entre/passagem. Supõe também saltos e rupturas, supõe riscos, desassossego, vertigem. Viagens assim têm um preço, que é a nossa própria transformação"
Adorei esta historia da felicidade e dos caminhos, muito bom.
ResponderExcluirAbraços.
Caminhos ou viagens? com qual ficamos ou ficamos com os dois ou com nenhum? Qual "caminho" escolher? ou qual "caminho fazer" ou não fazer?
ResponderExcluirTadeu!Bom te ouvir por aqui! beijo! Thiana
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