sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Milan Kundera


... no meio de vários livros sobre comunicação interpessoal, políticas públicas e redes sociais, meu pensamento foi lá pra Livraria Cultura e no cartão presente que ganhei de natal e que ainda não troquei.

A escolha vai ser por um livro que nada tenha a ver com os meus objetos de estudo e trabalho.
Sair um pouco fora desses temas, que vão me acompanhar por muito tempo, e entrar em outros, que me fornecem outras sensações, é o que vou buscar como leitura para os dias Off de carnaval.
O Milan Kundera é um dos autores que gosto pelo seu jeito de escrita....ele tá ali, descrevendo as ações dos personagens, detalhando fatos, pormenores e de repente, pá: ele fala direto contigo.
É como um chute no estômago.
A percepção que dá é de que toda a história dos personagens e a trama foram criadas para que lá pelas tantas ele pudesse dizer aquilo.
Nesses momentos, em que ele fala direto comigo, eu paro, e fico relendo mil vezes a maldita parte, como que para fixar aquela idéia.
Para ter uma noção do que estou falando e das lindas metáforas que ele usa, ai vão alguns trechos de A insustentável leveza do ser, romance que se passa na cidade de Praga, no ano de 1968. Foi publicado em 1984 e continua atual como nunca:

"O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor, esse desejo se aplica a uma série inumeráveis de mulheres, mas pelo desejo do sono compartilhado, este desejo diz respeito a uma só mulher"
"Não existe nada mais pesado que a compaixão. Mesmo nossa própria dor não é tão pesada como a dor co-sentida com o outro, pelo outro, no lugar do outro, multiplicado pela imaginação, prolongada em centenas de ecos. Amar alguém por compaixão não é amar de verdade."
"Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento."

"O drama de uma vida pode sempre ser explicado pela metáfora do peso. Dizemos que temos um fardo sobre os ombros. Carregamos esse fardo, que suportamos ou não. Lutamos com ele, perdemos ou ganhamos. O que precisamente aconteceu com Sabina? Nada. Deixara um homem porque quis deixá-lo. Ele a perseguira depois disso? Quis vingar-se? Não. Seu drama não era de peso, mas de leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser."
"Aquilo que dá sentido à nossa conduta sempre nos é totalmente desconhecido."
"O que excita a alma é justamente ser traída pelo corpo que age contra a sua vontade, e assitir a essa traição."

"É impressionante como a adulação nos desarma!"

"É só na sexualidade que o milionésimo de diferença entre os seres humanos aparece, como que uma coisa preciosa, isto não se oferece em público e é preciso conquistar. "

"O que é o flerte? Pode-se dizer que é um comportamento que deve dar a entender que uma aproximação sexual é possível, sem que essa eventualidade possa ser entendida como uma certeza. Em outras palavras, o flerte é uma promessa de coito, mas uma promessa sem garantia."

E para terminar, pois o livro tem muito mais, uma metáfora linda dos relacionamentos:

"Enquanto as pessoas são ainda mais ou menos jovens e a partitura de suas vidas está somente nos primeiros compassos, elas podem fazer juntas a composição e trocar os temas. Mas quando se encontram numa idade mais madura, suas partituras musicais estão mais ou menos terminadas, e cada palavra, cada objeto, significa algo de diferente na partitura do outro."

Bom final de semana! Até mais!

4 comentários:

  1. "O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor, esse desejo se aplica a uma série inumeráveis de mulheres, mas pelo desejo do sono compartilhado, este desejo diz respeito a uma só mulher"

    Achei lindo isso! Profundo, ao mesmo tempo simples e bem verdadeiro. Te desejo boa sorte no blog, tenho certeza que irá arrebentar!! Vou passar sempre por aqui.

    Um beijo, Merie.

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  2. Bom ham!Bem instigante, parece curioso cheio de perolas...
    beijinho
    cela

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  3. Merie!
    Que bom que vieste, aqui, apareça! Beijao

    Cela!
    Saudades de ti e do teu jeito de ser!!!

    Thiana

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  4. Oi Thiana,resolvi ler teu bolg e estou gostando muito.Entre uma troca de fraldas e um chorinho de manha vou lendo e me interando das tuas experiências...Quanto ao livro de Milan Kundera,a Insustentável Leveza do Ser, vi o filme à uns 20 anos atrás e naquela época...muuuito guria,nâo devo ter absorvido tudo de realmente interessante que ele dispõe.Coincidentemente passei num sebo aqui perto de casa e comprei o livro,antes de começar a ler teu blog.Achei uma coincidência interessante, pq além de ser um livro antigo e não estar mais entre os "best sellers", sonhei com o filme e resolvi que era hora de ler.Tudo de bom pra ti...e espero mais relatos teus.Beijo.Fernada

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